22/08/2023
Segurança

Guerra contra o tráfico: “A nossa vitória é passageira”, diz delegado

 Por Cristina Esteche e Dalner Palomo


A prisão de um dos maiores traficantes de droga de Guarapuava, Gustavo Lauri Hilário Neto, o Larico, e de outros oito integrantes da quadrilha que agia na localidade conhecida como Cracolândia significa apenas uma trégua nesse tipo de comércio.

A existência de grande número de grupos organizados e que se comunicam entre si permitem que outras lideranças assumam o posto que ficou vazio com a prisão ocorrida na manhã de terça-feira (10) e executada pela Polícia Civil após investigações que começaram em janeiro deste ano.
“A tendência é de que novos agentes assumam o lugar de quem está preso”, afirma o delegado-chefe da 14ª. Subdivisão Policial, Ítalo Biancardi Neto à RSN. A declaração do delegado expõe a triste realidade que vem sendo protagonizada no confronto entre a polícia e o crime. “A nossa vitória é passageira. Hoje você prende, amanhã outro ocupa o lugar de líder e o crime continua acontecendo ou então o preso sai e volta a traficar”, observa o delegado afirmando que o índice de reincidência é alto em Guarapuava e região.

Além das várias facções criminosas que permeiam o mundo do tráfico e que, proporcionalmente, em que em nada perde para a realidade exposta diariamente pela mídia nacional, o maior entrave para a polícia é a própria lei que trata do tráfico de drogas (Lei n° 11.343/2006).
‘É preciso haver uma punição mais adequada e condizente com esse tipo de crime e que segregue o traficante do convívio social e que acabe com as regalias exageradas”, defende Ítalo.
 Segundo o delegado, é preciso que os presos tenham atividades de trabalho pesado, não fiquem na ociosidade. “Tudo bem que as cadeias estão superlotadas, que a estrutura física é precária. Mas apesar da reincidência, tem tratamento psicológico, médico, odontológico, visitas íntimas, entre outras regalias, e que não estão influenciando na conduta. Acho que isso não resolve. O que resolve é a areia, o tijolo, o cimento”, afirma referindo-se à construção de novos presídios e a implantação de um regime mais rígido.
“Prender e soltar, banaliza. Há um déficit muito grande entre direitos e deveres e o atual sistema custa muito caro para a sociedade que contribui e que acaba bancando esses presos”, entende o delegado. 
 

“NÃO HÁ PAZ EM GUARAPUAVA”

O número de tráfico de drogas em Guarapuava, crime que está associado a ocorrências de roubos, furtos e homicídios, é considerado alto pelo delegado-chefe da 14ª Subdivisão Policial, Ítalo Biancardi Neto.

“Os crimes são muitos  e não há paz em Guarapuava. A cidade é um lugar de muita violência em todos os sentidos. Veja os registros de furtos, de roubos, de violência contra a mulher e tantos outros. O número de reincidência  também é muito grande”, afirma.

Para o delegado, quando se costuma dizer que o número de ocorrências policiais é compatível com o número de habitantes do município se trata de uma retórica que não é verdadeira.

“Quando se diz isso é porque não queremos assumir nossos erros e falhas. Fugimos de uma realidade para uma dimensão utópica”, afirma.

 

 

 

A CRACOLÂNDIA

O local não é nada privilegiado geograficamente e  muito menos ocupa lugar de destaque na pirâmede social. A Cracolândia, como é conhecido São Cristóvão II, situa-se ao lado direito da Avenida Castelo Branco, sentido centro x bairro. O lugar é formado por ruas íngremes, cheias de valetas provocadas pela erosão e pela falta de manutenção. As casas mostram que as famílias que ali residem são de baixo poder aquisitivo. Algumas micro empresas saltam em alguns pontos do local que é de pequeno porte. Há matagal por todos os lados.

 

É meio a casas de família que estava instalado dois pontos de vendas de crack, maconha, cocaína e outras drogas. Mas o que predomina é o crack, daí a denominação da vila.

 

Um dos “mocós”, como são conhecidos os esconderijos, fica num lugar estratégico: em cima de um morro e que dá visibilidade para as movimentações policiais que possam ocorrer nas proximidades. É de lá que “olheiros”- predominam adolescentes aliciados para o tráfico – avisavam qualquer movimentam suspeita.

 

Uma cabana abandonada construída no meio do mato servia como ponto de preparo e de consumo, venda e consumo da droga.


Outra casa (azul, de madeira) à beira da rua Candeias, número 31, também era ponto de venda, e guardava objetos oriundos de furtos, roubos e que eram entreguem como pagamento da droga.

 

Nas proximidades, uma casa de alvenaria, de cor roxa, com grades altas, vidros espelhados, mobiliada com tudo o que há de moderno, servia como residência de Gustavo Hilário Lauri Neto, o Larico, chefe do bando. O traficante dividia o espaço com residências de famílias. No local, acuados, os moradores preferem a “lei do silêncio”.

“Havia conexão entre as casas e os locais onde a droga era vendida. Tudo pelo meio do mato”, disse o delegado Ítalo Biancardi Neto.

 

A comunicação da quadrilha, entretanto, extrapolava o contato externo. Na sexta-feira (6), adolescentes tentaram passar maconha e cocaína para dois presos na Cadeia Pública de Guarapuava. A droga estava escondida em potes com fundos falsos. Foram flagrados pela carceragem.

“Na quinta-feira (5) já sabíamos que a droga estava sendo preparada”, diz o delegado. A operação desencadeada na segunda-feira ( 10) foram presas 9 pessoas, dos quais 3 adolescentes.

 

Cristina Esteche

Jornalista

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